Postagens

Mostrando postagens de 2010

POESIA POPULAR BRASILEIRA: 21,22/10, 19h - Teatro Morro do Ouro

Imagem
Gemedeira da Floreira (Roberto Pontes) Encovados olhos negros por detrás duma touceira de arame, cola e papel e cores que estão na feira para alimentar um filho da filha desta floreira ai! ai! ui! ui! da filha desta floreira. Florista fabrica flores para as jarras de alto luxo para os bolsos de alta venda e oferta flor de cartuxo estendendo os dedinhos mais roxos que o próprio roxo ai! ai! ui! ui! mais roxos que o próprio roxo. Florista fabrica flores e seu ritual de rua é um bailado sem som um triste cantar de loa a Estrela d’Alva sem luz e a borboleta na lua ai! ai! ui! ui! e a borboleta na lua.

Verso de Boca na E.E.F.M. Balbina Jucá - Jardim Iracema

Imagem
Autopsicografia (Fernando Pessoa) O poeta é um fingidor. Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente. E os que lêem o que escreve, Na dor lida sentem bem, Não as duas que ele teve, Mas só a que eles não têm. E assim nas calhas de roda Gira, a entreter a razão, Esse comboio de corda Que se chama coração.

Espetáculo A POESIA DO BRASIL MESTIÇO - Sesc-CE (out/2008)

Imagem
Traduzir-se (Ferreira Gullar) Uma parte de mim é todo mundo: outra parte é niguém: fundo sem fundo. Uma parte de mim é multidão: outra parte estranheza e solidão. Uma parte de mim pesa, pondera: outra parte delira. Uma parte de mim almoça e janta: outra parte se espanta. Uma parte de mim é permanente: outra parte se sabe de repente. Uma parte de mim é só vertigem: outra parte, linguagem. Traduzir-se uma parte na outra parte - que é uma questão de vida ou morte - será arte?

Dia da Poesia na Casa de José de Alencar

Imagem
Poética (Manuel Bandeira) Estou farto do lirismo comedido Do lirismo bem comportado Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e manifestações de apreço ao Sr. diretor. Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo. Abaixo os puristas Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis Estou farto do lirismo namorador Político Raquítico Sifilítico De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo De resto não é lirismo Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc Quero antes o lirismo dos loucos O lirismo dos bêbedos O lirismo difícil e pungente dos bêbedos O lirismo dos clowns de Shakespeare - Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

Espetáculo A POESIA DO BRASIL MESTIÇO - I Festival Literário de Ipu (ago/2009)

Imagem
Meus oito anos (Casimiro de Abreu) Oh! Que saudades que tenho Da aurora da minha vida, Da minha infância querida Que os anos não trazem mais! Que amor, que sonhos, que flores, Naquelas tardes fagueiras, À sombra das bananeiras, Debaixo dos laranjais! Como são belos os dias Do despontar da existência! - Respira a alma inocência Como perfumes a flor; O mar é - lago sereno, O céu - um manto azulado, O mundo - um sonho dourado, A vida - um hino d'amor! Que auroras, que sol, que vida, Que noites de melodia Naquela doce alegria, Naquele ingênuo folgar! O céu bordado d'estrelas, A terra de aromas cheia, As ondas beijando a areia E a lua beijando o mar! Oh! dias da minha infância! Oh! meu céu de primavera! Que doce a vida não era Nessa risonha manhã! Em vez das mágoas de agora, Eu tinha nessas delícias De minha mãe as carícias E beijos de minha irmã! Livre filho das montanhas, Eu ia bem satisfeito, Da camisa aberta o peito, - Pés descal

Espetáculo A POESIA DO BRASIL MESTIÇO - Teatro Gláucio Gill - Rio de Janeiro (jul/2009)

Imagem
Se eu fosse um padre (Mário Quintana) Se eu fosse um padre, eu, nos meus sermões, não falaria em Deus nem no Pecado — muito menos no Anjo Rebelado e os encantos das suas seduções, não citaria santos e profetas: nada das suas celestiais promessas ou das suas terríveis maldições... Se eu fosse um padre eu citaria os poetas, Rezaria seus versos, os mais belos, desses que desde a infância me embalaram e quem me dera que alguns fossem meus! Porque a poesia purifica a alma... e um belo poema — ainda que de Deus se aparte — um belo poema sempre leva a Deus!

Espetáculo A POESIA DO BRASIL MESTIÇO, no Sesc-CE (out/2008)

Imagem
Mentiras (Manuel Bandeira) Lili vive no mundo do faz de conta... Faz de conta que isto é um avião. Zzzzzuuu... Depois aterrizou em um piquê e virou um trem. Tuc tuc tuc tuc... Entrou pelo túnel, chispando. Mas debaixo da mesa havia bandidos. Pum! Pum! Pum! O trem descarrilou. E o mocinho? Onde é que está o mocinho? Meu Deus! onde é que está o mocinho?! No auge da confusão, levaram Lili para cama, à força. E o trem ficou tristemente derribado no chão, Fazendo de conta que era mesmo uma lata de sardinha.